Comprou veleiro e tá inseguro para
velejar?
Por Marcelo Visintainer Lopes
Instrutor de Vela
Escola de Vela Oceano
escola de vela oceano floripa - arte Kauli Lopes |
Calma!
Você
não está sozinho!
Dor
de barriga, ansiedade e até uma gastura no estômago (kkkk) fazem parte do
início de qualquer pessoa normal.
Tá
certo que também existe uma parcela de gente “sem noção” que não tem medo de
nada. O cara vai lá, mete a cara e volta... Muitas vezes faz bobagens e quebra
o barco. Outras assusta a esposa e a família toda, volta e finge que nada
aconteceu!!
Se
você é uma pessoa “normal”, sua ansiedade é compreensível.
Velejar
é diferente de tudo o que você já fez e praticou.
Velejar
é uma arte complexa que engloba temas que vão da meteorologia à física, da
matemática à geografia, da história à psicologia.
Raciocínio
rápido, coordenação motora, proatividade, bom senso, antecipação e mais um
monte de coisas que a gente nem imagina.
Eu
não sei se é o seu caso, mas a grande maioria das pessoas que compram veleiros
não passam e nem estão pretendendo passar pelo ensino formal de uma escola de
vela.
Se
já não é fácil para quem faz um curso, imagine para quem não faz.
Comprar
barco sem ter noções mínimas pode parecer estranho, mas é um fato!
Eu
sempre desejei ter a bordo do meu veleiro um cilindro de mergulho para utilizar
em eventualidades... Em dezembro do ano passado adquiri um equipamento completo
e desde então aguardo a oportunidade para iniciar um curso básico.
O
equipamento está ali à disposição e oportunidades não faltaram para testá-lo.
Eu
poderia ter assistido um tutorial qualquer, mas como instrutor sei que este não
é o caminho correto.
Um
simples cilindro de mergulho ou mesmo um mergulho em apnéia podem deixar sequelas graves se realizados de
maneira incorreta.
Quem
compra um veleiro sem possuir nenhuma noção de vela deveria ter o mesmo cuidado
que tenho em relação ao mergulho.
Este
tipo de atitude diminui as chances de você colocar em risco a sua vida e a vida
dos outros e também diminui em muito a dor de cabeça e a insegurança nas
primeiras velejadas.
Mesmo
fazendo um curso de vela o aluno pode ficar inseguro?
Claro
que sim!
Todo
mundo fica, principalmente quem compra o barco muito tempo depois de ter
concluído o curso.
A
demora na compra influencia diretamente na sua insegurança, pois você aprende e
esquece muito rápido se não colocar logo em prática.
Quanto
mais próxima for a compra em relação ao final do curso de vela, menor é a
chance de você apresentar insegurança.
Que
existem pessoas mais inseguras do que outras eu não tenho dúvidas...
Pessoas
inseguras por natureza (para tudo na vida) terão mais insegurança ao conduzir
um veleiro, principalmente nas primeiras saídas.
Cada
indivíduo possui seus próprios padrões de comportamento e a sua capacidade de
enfrentar situações adversas poderá torná-lo mais ou menos resistente ao medo.
Alguns
velejadores iniciantes resolvem muito bem questões desafiadoras e outras nem
tanto. Alguns reagem proativamente e outros simplesmente desligam o disjuntor.
Você
lida bem com as coisas que podem fugir facilmente do seu controle ou cai em
desespero e aperta o botão off, deixando o barco à deriva?
Seja
lá qual for o seu perfil, o mais importante é você se sentir seguro na realização
das manobras básicas. Esta é a parte mais fácil, já que o treinamento eleva a
sua autoconfiança.
Quando
um aluno compra o veleiro muito longe do final do seu curso eu sempre indico
que ele faça pelo menos uma aula particular (avaliação e otimização) no próprio
barco.
Eu
avalio o estado geral das velas, reviso e ajusto o estaiamento, otimizo cabos e
por fim testo as reações do barco em diferentes condições.
Cada
veleiro possui suas peculiaridades e o seu não será igual ao meu.
Tempos
de resposta de leme e melhores ângulos de trabalho, ângulos de orça, ângulos de
adernação, posicionamento da tripulação, peso e formato da quilha, comprimento
do leme, enfim... Tudo influencia no desempenho deste veleiro que você acaba de
adquirir e isto o torna único.
Mesmo
os modelos de linha podem sofrer alterações de desempenho e equilíbrio de leme
pelo simples fato do mastro estar mais caído para vante ou para ré.
Eu
comparo a minha presença a bordo ao carro que vai para a oficina. Seu carro
puxava para a esquerda e havia uma forte trepidação na direção.
Quando
subo no veleiro eu tento ser a geometria, o balanceamento, a revisão dos
freios, a troca de óleo e mais uma aula de direção na pista do autódromo!
Quando
identifico problemas mais sérios de leme, quilha ou mesmo de alinhamento de
eixo de motor, indico o içamento do barco para realizar todas as revisões.
Meu
objetivo com este texto foi demonstrar o quão complexo pode ser um barco à vela
e também justificar os motivos que o levam a sentir tanto desconforto e receio
ao sair nas primeiras vezes.
Estamos
juntos!
Bons
ventos!