COMUNICAÇÃO EFICAZ X PREVENÇÃO
Por Marcelo Visintainer Lopes
Instrutor de Vela - Escola de Vela Oceano
Sabe aquele cliente
de charter que liga todos os instrumentos e depois abre os seus armários para
ver o que tem dentro?
E o cunhado que gosta
de ir (sem perguntar se pode) até a proa fazer fotos?
O que dizer do
meu sobrinho que só usa a gaiuta de proa para entrar e sair do barco?
O tema de hoje está
relacionado ao compromisso do comandante em garantir a segurança de todos.
A comunicação
eficaz serve justamente para evitar que coisas desse tipo aconteçam sem o seu
total conhecimento e consentimento.
Uma conversa objetiva
e bem conduzida será capaz de reduzir a quase zero o risco de acidentes e também
os prejuízos materiais.
Ela deverá
ocorrer logo após o embarque, antes mesmo das pessoas começarem a colocar suas
coisas em qualquer lugar.
Muito cuidado
antes de começar!
Existe uma grande
diferença entre o comandante zeloso e profissional e o chato de plantão. A
diferença está apenas na forma como você se coloca.
Por vezes o
comandante prefere o silêncio a passar por chato, mas esta não é uma estratégia
segura.
Seja no passeio com
a família ou em um charter, a responsabilidade com a segurança é a mesma.
O charter deve
ter regras bem definidas (preferencialmente em um site), garantindo que o contratante
conheça seus direitos e deveres antes de efetuar a reserva.
O que ocorre com
muita frequência é que o contratante não repassa aos seus convidados as normas
contidas no site e por isto temos a responsabilidade de brifar tudo antes da
partida.
Mesmo que você
tenha dado todas as dicas é importantíssimo que acompanhe cada movimento a
bordo, sem distrações (um olho no gato outro no peixe).
Ninguém tem
obrigação de entrar no veleiro sabendo de tudo e por isto mesmo devemos relaxar
com as manias.
Algumas coisas que
fogem do controle podem realmente incomodar, mas boa parte delas poderiam
passar batidas se não fosse a nossa chatice.
A dica é: controle
suas manias e deixe a velejada fluir sem grilos bobos.
A comunicação gentil
e bem educada é uma obrigação!
Não devemos
insistir em grosserias, pois assim descobriremos rapidamente o significado da
palavra “insurgência”.
No passado, os
oficiais da Marinha Mercante tratavam muito mal seus marinheiros.
Eles morriam de medo
de ser empurrados na água e por isto nunca davam chance para o azar.
Conheço bem este
tema, pois na minha adolescência eu viajei para a Europa em um navio de carga.
Não embarquei
como marinheiro e sim como convidado do gabinete do Ministro dos Transportes.
O Brasil possuía
uma autarquia de navegação - Lloyd Brasileiro (fundada em 1894) que contava com
uma frota de mais de cem navios que percorriam a Europa, o extremo oriente e os
EUA.
Meu camarote
ficava ao lado do camarote do comandante e no refeitório, devido às distinções
do Ministério, eu também ocupava a cadeira ao seu lado.
Obs. Em outro
momento conto como tive esta oportunidade.
Durante as refeições
eu me ocupava com as histórias e dicas sobre os cinco países da nossa rota
(Alemanha Oriental, Alemanha Ocidental, Bélgica, Holanda e França), mas as
histórias que mais me encantavam eram relacionadas aos marinheiros.
O comandante comentava
que não era seguro caminhar no convés, pois eles eram muito traiçoeiros.
Do meu camarote
eu observava a manutenção diária da ferrugem no convés e não conseguia
acreditar que aqueles trabalhadores eram tão maus assim.
Resolvi descer e
conhecer as rotinas da tripulação e logo fiquei sabendo que o líder dos marinheiros
era gaúcho (como eu) e que torcia para o meu time.
Pronto, eu já
tinha carta branca também no convés.
Aproveitava o bom
relacionamento com as duas tripulações (oficiais e marinheiros) para ouvir histórias
incríveis.
Fiquei três meses
embarcado e pude aprender muita coisa sobre “gestão de pessoas”.
Tirei minhas
próprias conclusões e entendi que o medo dos oficiais tinha total fundamento,
pois os marinheiros eram realmente perigosos.
Não porque eram
bandidos e sim por causa das pesadas e constantes humilhações sofridas.
Por sorte esta
parte da história da navegação brasileira está ficando para trás com a
renovação dos comandantes.
Hoje em dia ele
procuram realizar o seu trabalho de gestão valorizando todos os membros da
tripulação por igual.