Por Marcelo Visintainer Lopes
Instrutor de Vela
Escola de Vela Oceano
Falei em postagens anteriores sobre os
conhecimentos básicos para realizar manutenções a bordo e hoje falarei um pouco
sobre os diferentes níveis de conhecimento sobre um mesmo conteúdo.
Existem vários níveis técnicos dentro
de um mesma manobra e, dependendo do nível em que você se encontra, diferentes
resultados poderão aparecer em relação ao desempenho e aos esforços sofridos
pelo barco.
Vou analisar um dos princípios básicos
da vela que é ORÇAR E ARRIBAR.
Os dois movimentos possuem relação entre
a proa e a direção do vento e um é contrário ao outro.
Servem, inicialmente, para realizar mudanças
de rumo e para aumentar e diminuir a velocidade.
Seu conhecimento em um nível logo acima
permitirá que você consiga alcançar um destino contra o vento.
No próximo nível você descubrirá que
existe um ângulo menor (menor caminho) para alcançar este destino.
Mais um nível e você demorará menos
tempo para chegar ao destino.
Estamos evoluindo, mas o ponto onde quero
chegar hoje vai um pouco mais além: preciso que você entenda a relação entre velocidade, menor
ângulo e menor fadiga.
A fadiga é o foco desta postagem!
De nada adianta performar em
velocidade e ângulo e negligenciar todo o esforço sofrido pelos materiais.
É para isto que servem os ângulos intermediários
além da orça máxima. Estes ângulos permitem harmonizar performance e fadiga.
Em relação à orça era isto...
A outra parte cabe ao domínio sobre as
diferentes regulagens de perfil de vela, tensões de escotas, tensões das adriças,
tensões do estaiamento e ainda sobre a utilização de contrapesos...
Sabemos que os barcos de regata foram
concebidos para performar e que todos os materiais trabalham muito próximos dos
limites de quebra.
É por esta razão que a sua vida útil é
menor do que dos barcos tradicionais de cruzeiro.
Teoricamente os barcos deveriam ser
construídos para suportar grandes esforços, mas nem todos os estaleiros trabalham
para este propósito.
Se você possui um barco novo e não
conhece os processos de construção e os materiais utilizados, sugiro que comece
a cuidá-lo com mais carinho.
Se você possui um barco antigo cuide-o
como se fosse uma pessoa de idade avançada, pois sua resistência mecânica já
não é mais a mesma.
Esta é mais uma boa razão para você dominar
as técnicas de diminuição de esforço o mais rápido possível.
Sabendo que a maioria dos barcos não
foi feita para cruzar o Horn ou para velejar no Mar do Norte, entender o meu
conceito de “performar e não deformar” servirá para aumentar a vida útil do seu
brinquedo!
Precisamos entender que “performar”
significa mais do que manter as médias de velocidade próximas da curva polar.
Performar na vela de cruzeiro é manter
boas médias de velocidade com o menor esforço possível.
Se isto não for possível por falta de
técnica, prefira andar com menos vela em cima e com menos pressão de vento agindo
sobre elas.
Quando aprender como “aliviar” os
esforços (principalmente nos menores ângulos de contravento) você estará beneficiando
mecanicamente o barco e ainda terá benefícios de ganho de orça e de altura em
relação ao destino.
Diminuímos a adernação, o freio
hidrodinâmico do leme (que trabalha menos atravessado) e a intensidade das
forças que atuam sobre todos os entes envolvidos (casco, mastreação, velas
etc.) e assim estaremos poupando “aquele velho senhor”.
Meus exemplos são válidos somente para
os ventos moderados a fortes.
Não se preocupe com nada disto quando
estiver velejando nas brisas.
É muito importante lembrar que não é
só o barco que agradece o alívio de força. Sua tripulação também não ficará
confortável quando ocorrer desequilíbrio nas regulagens e na condução do leme.
Velejar da maneira tradicional é
bastante simples, mas conseguir tocar um veleiro na ponta dos dedos exige experiência
capacitação específica.
Depois de ler tudo isto, pare e reflita
como está a sua condução.
Zeloso ou metendo o pau no barquinho?
Bons ventos!
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